
Rio de Janeiro, Distrito Federal, em 20 de março de 1949.
Ao grande amigo e eloqüente orador da Capital, Dr. José de Paes Nobre:
Espero que o distinto amigo jamais se esqueça dos tantos serviços prestados por minha pessoa ao queridíssimo companheiro de luta. Sempre o tive no meu mais alto índice de respeito assim como toda sua família, como Dna. Zélia Nobre pode dar o seu aval.
Diante de tantos favores prestados ao amigo, muitos deles super bem agraciados, diga-se de passagem, com tanta pompa de suas cartas.
Recordo-me, porém, que muitas de suas cartas vieram até sem sua assinatura, principalmente as que vinham com desagrado a minha pessoa quando algo não lhe era conveniente. Imagino eu, estando o amigo super atarefado no corre-corre da Capital, por mais que quizesse, não teria um tempo para algo mais corriqueiro como um café no buteco da Travessa das Pastilhas, do português Joaquim Vieira. Ficará para a próxima, velho amigo. Tomarei o café com o próprio Manoel desta vez.
Quero que o amigo saiba que, estando eu com o velho companheiro do boteco, o lusitano Joaquim Vieira, este me disse: “Olha cá a mim, óh Ferraz, mas já faz é tempo que o doutor Nobre nem olha pra essas bandas.” Eu, é claro, como em todos os tempos, apoiei ao velho amigo e disse ao português que os afazeres na Capital são um exagero e que a tal ausência não era por vontade própria.
Tive, também, até a ousadia de mostrar-lhe sua última carta onde o amigo, descontente, somente escreveu abaixo do papel
a expressão “imbecil”.
Ao tentar lê-la, com seu tamanho analfabetismo, disse-me o Joaquim Vieira: “Mas óh pá, o cajo deve estar mesmo muito atarefado, óh Ferraz. Veja que só a assinou sem haver escrito nada.” Somente concordei com o velho português e lhe disse:
“Bem verdade, Joaquim, só a assinou.”
Hoje mesmo estou de viagem à Bahia pois não quero perder a maravilha que será a apresentação de Gordurinha, na Rádio Sociedade.
Até mais ver, do amigo fiel.
Luiz Ferraz
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