Era a Rua Costa Ferreira,
antiga Travessa das Pastilhas,
que em uma tarde de verão,
queimando o sol como o quê,
e, eu, com a pena na mão,
às personagens, vida lhes dei,
dando-lhes o meu coração.
O mais nobre de todos eles,
era seu Romualdo, o vidraceiro,
casado com Marialva da Paz.
Ao lado havia, também,
Dona Apolônia, a portuguesa,
cujo o cajo do marido, Don Fernando,
tinha por profissão ser tripeiro.
Pra alegria daquele solar,
o primeiro casal deu origem
a uma linda e delgada menina
que adorava briga e desordem
Náia era apelido e Isaura seu nome.
Já Dau, o progenitor varão,
Possuía uma cabeça enorme.
Conhecido como “Cabeça de Porco“,
tinha gente de todo jeito
naquele velho e sombrio solar:
gente gorda, gente magra
e alma de toda a cor;
tinha até “dama de branco“
pra criançada espantar.
Olha, lá, também, tinha o “Risca“,
cachaceiro como ele só e
irmão de um tal Deodato
que era um ciclista, sem tirar e nem por,
e fazia de seu velho tricíclo, o ofício,
de peças de maquinas de escrever,
sua vida de entregador.
Lá no fundo ainda tinha seu Valdir,
vivendo com dona Sirley, seu amor,
O casal era pai de Betinho e “Vidinha“,
não me esqueço, nao senhor.
E subindo a escadaria, lá por cima,
Era um mal cheiro de “mundiça“.
Era seu Alonso com dona Cinira “Fedô“.
Tinha lá, por Deus, seu Clulé,
que só de pé tinha uma légua;
os dedos do pé, que tortura,
por onde todos caminhassem
o mal cheiro não dava trégua.
Estavam sempre bem protegidos
com a sandália da amargura.
Sei que os poucos eram vários,
mas eram poucos em abundância,
pois, hoje, muitos são poucos
e teria que a dedo escolher
pra poder se fazer novamente,
e com o mesmo mostruário,
aquela rua de minha infância.
Luiz Ferraz, em 24 de agosto de 2002
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