sábado, 1 de agosto de 2015

OBRA INACABADA DE UMA COLHER DE PEDREIRO

Obra Inacabada de uma colher de pedreiro

Na vida, sou mão de ferro
mas também sei alisar, 
tal e qual um João de Barro
que faz do bico a destreza
de tirar da natureza 
o mais puro edificar.
Eu enxergo em minha mão
os cinco andares de um predio:
o mínimo, anular, o médio, fura bolo e polegar.
Empurro a mão na areia,
faço pirão de cimento, 
dou caratê em tijolo,
faço base, acentamento, 
ando no alinhamento
em busca de indireitar.
Reboco de lá pra cá,
chapisco em meia colher, 
e acreditem, se quiser, 
me divirto em chapiscar;
me atrepo nos andaimes,
arriscando desabar;
e no fim de cada dia, 
rezo tres Alvenarias,
pra sorte me acompanhar.
E nessa luta de fé,
Assumo, em voz de colher, 
que no ramo da construção, 
minha única frustração
é não conseguir pintar.
Mas carma, meu pessoá,
eu vou dizer pra vocês
que se tiver tinta Xadrex,
e um piso pra terminar,
eu meto a mão na cumbuca,
misturo o tal tingimento,
e cubro o chão de cimento,
com o mais vermelho encarnado,
e deixo semi acabado,
só carecendo encerar.

       Jessier Quirino

quarta-feira, 22 de julho de 2015

MEMÓRIA

Memória

Vagas tu, por toda uma vida, 
Vividas, de contador de estórias,
Contas tu, uma dor sofrida, 
Chama-te, simplesmente, a ti, memória.

Para que te quero a ti, miserável espanto?
Que me fazes sofrer em falsa glória. 
O passado, lembras tu, a todo encanto,
Mas não sou eu, e, sim, tu, memória.

Descobres tu, o manto do passado, 
Embelezas a mil, toda aquela escória,
E do pó cinzento, vê-se, ainda, os retalhos,
Comtempla-te tu, maldita e boa memória.

Deixa-me viver meu finais e velhos dias,
Envelhecer minha arte bela e compulsória,
Para que material, tenhas tu, em demasia
Contas em morte, minha vida; em vida, as memórias. 

Luiz Ferraz, 
24 de agosto de 1989

sábado, 4 de julho de 2015

MEU BRASIL BRASILEIRO

Meu Brasil Brasileiro

Eu sou muito, do meu Brasil, um brasileiro,
E do muito, pouco, ainda, do inteiro.
Eu sou todo, o infinito, um brasileiro,
Que vive, choros e lamentos, no estrangeiro.

Pouco sois vós,  um brasileiro,
Se de temblor não cai o mundo inteiro,
Dai-vos de conta, velho patriota companheiro,
Enxergai vós,  pouco, a luz do meu luzeiro.

Lutemos nós, com as forças do guerreiro,
De vãs palavras estás vasto, lisonjeiro,
Deitar calúnias não constrói um só ponteiro,
D'cardiais pontos do m'Brasil bem brasileiro.

Elevai vós a alma e corp'inteiro
Fazei vós vossa parte cabida como herdeiro,
Olhai vós, somente tu, do meu cruzeiro,
Que verás vós a mim, do Brasil, um brasileiro.

 Luiz Ferraz

domingo, 24 de maio de 2015

LEMBRANÇAS

Lembranças

Lembranças. O que são lembranças?
Isso só quem sabe é o tempo
Que brinca com nossa mente
E caçoa a todo momento
E quando deixa de brincar
É que nos chega o esquecimento.

Lembranças de minha querida mãe,
Só na cozinha, o dia inteiro,
Do meu cachorro, o “Malhado“
que não saía do terreiro.
Lembranças de meu querido pai
De quem sou orgulhoso herdeiro.

Lembranças de minhas andanças,
Por esse mundo que nos esconde;
De minha primeira escola na vida
Que ia de calça curta e no bonde
Que mamãe ainda me ajeitava
Pois eu era muito crianca.

Lembranças de tudo o que fiz
E do que deixei de fazer,
Lembranças das nomoradas,
Das que tive e deixei de ter
Do homem que pude ter sido
E do homem que pude não ser.

Luiz Ferraz,  em 23 de maio 2015.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

SAUDADE

Saudade é um parafuso
Que na rosca quando cai
Só entra se for torcendo
Porque batendo não vai
E enferrujando dentro
Pode quebrar mas não sai

Quem quiser plantar saudade
Primeiro escalde a semente
Depois plante em lugar bem seco
Onde bata o sol mais quente
Pois se plantar no molhado
Quando nascer mata a gente.

         Antonio Pereira de Moraes

15 de janeiro de 2015
Em homenagem póstuma à tia Célia, minha segunda mãe.