Sonho meu.
Já a república havia ganhado tanta força que deixara a colônia e o império saqueador de riquezas em um lugar muito esquecido que somente a história contaria, doravante. Mais aparentava algo tão milenar que nem mesmo um mais pobre miserável mortal teria condição de imaginar que um dia pudéssemos ter sido tão explorados e, “colonizados“, só mesmo nos pergaminhos que ficariam para a história aquele puro e cruel conto de fadas.
Mesmo não querendo mais lembrar da horrenda escravidão - ah, como aqueles vestigios não nos deixaria em paz. Diria eu que quase genético um tal “quê“ para a delinquência abrasadora que nos fervia o sangue e nos impulsionava aos delitos mil. Isso tudo foi sonho mas chegaria o dia que uma linda democracia reinaria e a beleza das riquezas seria de todos e todos dela. Ninguém se apoderaria de pertences alheios e a nossa política, o exemplo planetário, com nossa Presidente do mundo, a nossa querida mãe, Dona Silma Coesse, vigoraria para a eternidade, tao forte como a própria natureza.
Brilharia em São Mauro, a maior cidade do mundo, uma prefeitura sem prefeito, ah, dade. Na cidade de São Bonitão do Rio de Fevereiro, tem carnaval. A prefeitura seria ocupada onde o Homem com “H“ pôs a mão, fantando só um dedinho.
A nossa constituição seria o símbolo e regeria a Organização das Nações Unidas Mundial e todos os povos dos cinco continentes viveriam ajoelhando-se à Ela, a nossa Constituição Mundial sob o brilho das estrelas do Cruzeiro do Norte.
Felizmente, graças ao nosso bom Senhor do Mau Fim, e a nossa bendita Suprema Corte, conseguimos acabar com os corruptos que foram parar todos em umas “caixinhas de corruptos“ conhecidas como “cadeias“ e hoje são brinquedos infantis.
“Comprem corruptos, senhoras e faça de sua criança feliz e um exemplo de alegria ao brincar com os mais diferentes corruptos. Tem corrupto de toda cor, espécie, gênero. Compre hoje em liguidação o seu corrupto de nunca mais...“, gritava em alta voz o pregoeiro daquela loja de brinquedos, a tão conhecida CORRUPTOLÂNDIA.
Já naqueles bons tempos, se misturavam em salada a corrupção privada com a corrupção pública. Felizmente, com fé de mais no nosso bispo Maiscedo e nos poderes de seus sacolões de promessas, uma santa amada corte viria para julgar os mais vivos que os mais mortos. Seria o final da avalanche “Você toma“ e “Quer que eu morra“.
Salve, salve, um navegante negro, do tronco dos Palmares, que das letras era o imperador e da maracutáia, o Relator.
O Brasil gritava: “mamãe, Barbosão chegou.“
Seria o juizo final. Sob o comando de Barbosão, presidente da Suprema Corte Mundial de Injustiça, aquela era composta de noventa e oito Barbosinhas distribuídos entre mulatos, mestiços, índios e cafusos e mais um revisor, o ministro Trazendovski, totalizando, assim, cem conceitos da jurisprudência mundial.
Meses e mais meses, anos e mais anos se passaram e milhares de processos foram arrolados com acréscimos e mais acréscimos de documentos de um julgamento que jamais o mundo veria outro igual antes de transformarse no paraiso terranal que todos assistiriam pelos jornais das mais nobres e carismáticas irmãs - a TV Bôbo e a TV Recorre$. Mundo afora eram transmitidos todos os passos do julgamento da humanidade - O ANUALÃO - até mesmo por emissoras de menor porte como a BBC e a CBN.
Ah, que isso, meus amores? Jamais tivemos julgamentos de ladrões de galinhas como o julgamento de Galo Umberg. Tudo se acabara. Barbosão colocou atrás das grades a meio mundo e todos, em seu louvor, cantavam a uma só voz a canção que o ANUALÃO nos ensinou: “Santo, Santo, Santo, é Barbosão, o Rei do Universo. Infernos e Mares tambem proclama, a Vossa Glória, sem Osama nas alturas.“
Já a classe menos desigual gritava pelas ruas do Planeta: “Você viu o Barbosão por aí?“
Por tantas dores na coluna cervical de tanto garregar processos do ANUALÃO nas costas, Barbosão solicitaria seu afastamento da presidência da casa e cogitava-se na Corte Mundial, muito precocemente, o nome de Trazendovski.
A população reagira indiferente pois estaria sanado todos os poblemas do mundo. Razão alguma seria impedimento para Trazendovski assumir a presidência do Plenário. Já viveríamos a era da perfeição total onde a corrupção não mais existiria, os povos se respeitariam e guerras em meios orientes e orientes inteiros não mais ocupariam as páginas dos telões das NETs. As religiões eram “Universais“ e uma paz reinaria em todo o mundo após o fim do ANUALÃO.
Nosso único lider voltaria ao poder, agora com os seus cinco dedos e dando classes de civilidade, carisma e, principalmente, português, a língua única de todos os povos dos cinco continentes e que o Senhor nos ensinou.
“Não, Maria, ainda não é hora de trabalhar“............“Levanta, meu pai, o senhor não trabalhará hoje?“, perguntara minha filha. “Claro, meu xodó, vamos agora à fantasia bendita. Me levantarei às dez, tomarei meu café, darei um cheiro na mulher e nas crianças também. Irei pro trabalho com o céu ainda escuro, respirando todo o ar puro que o nosso Planeta tem“.
De Luiz Ferraz, em 27 de outubro de 2012.