Obra Inacabada de uma colher de pedreiro
Na vida, sou mão de ferro
mas também sei alisar,
tal e qual um João de Barro
que faz do bico a destreza
de tirar da natureza
o mais puro edificar.
Eu enxergo em minha mão
os cinco andares de um predio:
o mínimo, anular, o médio, fura bolo e polegar.
Empurro a mão na areia,
faço pirão de cimento,
dou caratê em tijolo,
faço base, acentamento,
ando no alinhamento
em busca de indireitar.
Reboco de lá pra cá,
chapisco em meia colher,
e acreditem, se quiser,
me divirto em chapiscar;
me atrepo nos andaimes,
arriscando desabar;
e no fim de cada dia,
rezo tres Alvenarias,
pra sorte me acompanhar.
E nessa luta de fé,
Assumo, em voz de colher,
que no ramo da construção,
minha única frustração
é não conseguir pintar.
Mas carma, meu pessoá,
eu vou dizer pra vocês
que se tiver tinta Xadrex,
e um piso pra terminar,
eu meto a mão na cumbuca,
misturo o tal tingimento,
e cubro o chão de cimento,
com o mais vermelho encarnado,
e deixo semi acabado,
só carecendo encerar.