terça-feira, 25 de dezembro de 2012

ESCREVER BONITO

Escrever bonito

Escrever bonito era tudo que eu mais queria,
Mas os pensamento só anda tudo ocupado,
Num dia, se vai em frente, no outro só disvia,
Eu sei que quarquer dia desses, na cabeça,
Bem cedim, bem no cantar do galo, 
Ela ingrena, põe o rumo no tranco e esfria.

O que não se pode, com certeza, 
É só ficar triste e todo amuado,
Que os pensamento, sem esperar, vorta logo,
E nóis num pode esquecer, afinar,
Que é no gingado da cabeça, 
Que nóis têm os resultado.

Um dia de pensar tá mais procê,
E in otro dia tá mais é pra mim, 
Quando ocê pensa só nas mulher,
As danada só pensa é nim mim,
E quando ocê só pensa nim home,
Os home só pensa só nocê.

Mas o compasso da vida é boa, 
Quando é tudo bem equilibrado, 
Ocê num pensa no que ocê deseja,
Pois já é tudo bem cumbinado,
Pois é no gingado das cadeira, 
Que se conhece o rebolado.

Quando se quer pensar coisa atôa, 
Nóis só pensa nim coisa ruim,
Depois eles fala que a via é boa,
Tudo na vida é muito ingraçado, 
Inté é na qualidade do estrume, 
Que nóis cunhece o ruminado.

Num indianta ocê só querer bem,
Se ocê num é bem desejado,
Nem ter aquilo que os otro têm,
Que inveja é um mal desgraçado,
Pois pinto só nasce redondim,
Pruquê o ôvo é bem ovalado.

Por isso num indianta ocê iscrevê,
Se seus miolo tão tudo ocupado,
Ocê inté tenta iscrever dereito,
Mas só iscreve é tudo errado,
Ocê inté quer ser dotô nas letra,
Mas num passa de um pobre coitado.

De: Luiz Ferraz, 
       Em 11 de marco de 1988

QUANDO O MEU AMOR MORRER

Quando o meu amor morrer...

Quando o meu amor morrer,
Quando o meu sonho se apagar,
Quando uma só luz, jamais brilhar,
Acreditem, então, só assim, 
Que morto estará o meu ser.

E um funeral nada pomposo,
Depois de uma despedida triste,
Terá que nenhum ser vivente,
De passo a passo, acompanhar,
E, nem, tão pouco, uma tumba fria, 
Com lápide de granito negro,
“Jaz aqui...“ jamais se escreverá.

Pois mesmo que morto eu esteja, 
Não estaei totalmente completo,
Porque sei que dentro de mim, 
Existirá uma única mulher
Por quem terei eterno afeto, 
Muito amor e total respeito,
Minha querida mãe, minha Dalva,

O que impedirá, por certo,
Que um órgão tão importante, 
E vital em sua função,
Se desfaleça, é claro, e, portanto,
Atentem com maior atenção,
Aos que ao meu enterro foram,
Acreditando me verem bem morto:

Retrocedam-se no tempo, irmãos,
E voltem para seus lares, 
Não derramem por mim suas lágrimas,
Já que Luiz Ferraz, o defunto,
Levantando-se do caixão escuro,
Fúnebre e, por demais, encarnado,
Com as mãos e pés bem juntos,
Sentiu-se bem aliviado,

Ao ver que todos aqueles,
Que falsas lágrimas deixaram correr,
Por faces escondidas e frias,
E brigaram até para segurar,
Na alça de uma caixa de morto,
A quem não lhes deu esse prazer,

Pois aquela tumba bem fria, 
Onde repousaria o meu ser eterno, 
Serviu somente de palco,
Com milhares de mortos presentes, 
E foram os únicos que ficaram, 
Ao me verem vivo, novamente.

Uma vez que tantos covardes,
Cheios de moral e falcatruas, 
Correram, assombrosamente, 
Enchendo toda uma rua.

O meu amor não morreu,
Por você, minha mãe querida,
Luz e guia da minha vida, 
Muito menos, meu sonho apagou, 
E uma nova luz se acende,
Gritem, senhoras e senhores meus:
“O defunto viveu novamente“, 

Porque meu falecido pai, 
Que tanto ensinamento me deu, 
Estaria orgulhoso agora, 
Neste momento de ressurreição,
Pra tão canalhas e hipócritas verem,
E pra quem ainda não viu:

Que na epígrafe de minha lápide,
Não estaria, jamais, escrito assim:
“Aqui jaz um pobre diabo, 
Que nunca amor nem sentiu, 
Mas que é filho de muitos pais,
E de uma puta que o pariu.“

De Luiz Ferraz, 
Em 14 de agosto de 2009

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

PEIXE COM CEBOLA


PEIXE COM CEBOLA

Você, eu bem sei,  chorou antecipado, 
Pela morte do inocente, o pescado, 
Que em aguas límpidas, tão reluzente,
Nadava tão inocente, o peixe, minha gente.

Não pensava tão cedo ser um defunto,
E comido por um olhar esfomeado,
Ao redor de uma mesa, todos juntos,
O seu corpo estar sendo comido e velado.

Não houve carpideira, nem vela e nem cachaça, 
Ao redor do falecido, chorava toda a familia
E parente das águas não foram ao velório convidados,
Por, talvez, medo de morrer como aquele desgracado.

Chorando, todos, degustavam o defunto vertebrado,
Com um molho de formol sobre o defunto derramado,
E ninguém teria, sequer, aquela morte, chorado,
Se cebola no peixe, não tivesse, a assassina, colocado

De Luiz Ferraz, em 5 de dezembro de 2012.